sábado, 23 de janeiro de 2010

Painel do clima continua confiável, dizem especialistas

Eles avaliam que, mesmo após ter admitido erro sobre o Himalaia, IPCC não deve ter imagem Arranhada. Pesquisadores avaliam que a reputação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) não ficará arranhada após o grupo de cientistas da ONU ter admitido que a advertência de que as geleiras do Himalaia podem desaparecer até 2035 está mal fundamentada cientificamente. O IPCC assumiu anteontem que os procedimentos-padrão estabelecidos para a realização de seus relatórios não foram seguidos no caso. "Ao escrevermos o parágrafo em questão, os padrões claros e bem estabelecidos de evidências, exigidos pelos procedimentos do IPCC, não foram aplicados corretamente", disse. O órgão não informou qual seria a data correta para a perda do glaciar. Na opinião de Graham Cogley, professor de Geografia na Universidade Trent, no Canadá, e um dos pesquisadores que trouxeram o erro à tona, o impacto negativo para o IPCC será pequeno. "Quem é cético com relação ao aquecimento global continuará cético e quem acredita nas mudanças climáticas vai aceitar o argumento de que isso é uma parte pequena do quadro, metade de uma página de um total de 3 mil", afirmou ontem ao Estado. Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que participou da elaboração do quarto relatório do painel, divulgado em 2007, considera, de modo geral, não ser muito significativo ter uma sentença que não seguiu estritamente os procedimentos do IPCC. O físico Paulo Artaxo, da USP, também um dos autores do quarto relatório, tem a mesma opinião. E lembra que "faz parte do método científico revisar dados". O IPCC não produz pesquisas, mas compila informações de estudos existentes e adota o chamado peer review, ou seja, a revisão pelos pares. Do último relatório, participaram 1,3 mil cientistas. AUMENTO DO RIGOR "O que ocorreu não chega a abalar a credibilidade do IPCC, mas pode desgastá-lo um pouco. Isso obriga o painel a ser mais rigoroso nos seus procedimentos", diz Fabio Feldmann, consultor na área ambiental e secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas. Ele ressalta ainda que o fato de o erro ter sido assumido mostra a seriedade do IPCC. Luiz Pinguelli Rosa, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que o caso não coloca o IPCC em xeque e cita o filósofo da ciência Karl Popper para corroborar a opinião. "Popper defende que a teoria só é científica se for exposta a refutação. Ou seja, a verdade na ciência é provisória", disse. Ele lembra que a teoria de Newton na mecânica foi corrigida pela relatividade de Albert Einstein. "E nas revistas científicas isso também acontece o tempo todo." NEGOCIAÇÕES As negociações na área climática, em que o objetivo principal é que os países adotem metas de corte de emissão de gases de efeito estufa, não deve ser muito afetado pelo caso do erro no relatório do IPCC. "Provavelmente, será um pouco mais difícil alcançar um acordo válido juridicamente, mas só um pouquinho", afirma o pesquisador canadense. "Essencialmente, não há impacto na ciência das mudanças climáticas ou mesmo em mudanças nos glaciares", ressalta. Ele lamenta, no entanto, que a informação tenha feito "muita gente ter perdido tempo". "Mas felizmente foi detectada e corrigida antes que maiores decisões tenham sido tomadas sobre a questão." Para Carlos Souza Júnior, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), tratou-se de um problema "de ordem técnica", o que não altera o rumo das negociações. Isso porque "há uma grande segurança" na parte em que se afirma que um aumento de mais de 2°C será desastroso para o planeta. Área de pesquisa possui lacunas O próprio IPCC deixa claro que há muitas incertezas e dificuldades na realização de pesquisas na área de mudanças climáticas. No relatório de 2007, quando o IPCC e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore receberam o Nobel da Paz, o painel da ONU ressaltou que existiam 54 "incertezas-chave" que complicavam a ciência climática. Agora, uma reportagem da revista científica Nature aponta as principais lacunas. Uma delas é a previsão dos impactos regionais do aquecimento global - o que mais interessa às pessoas. “Pesquisadores ainda lutam para desenvolver ferramentas para prever com precisão as mudanças climáticas para o século 21 em nível local e regional”, diz o texto.

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