quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Relevo e forma de ocupação contribuíram para enchentes e deslizamentos no Vale do Paraíba

De um lado, a Serra do Mar. De outro, a Serra da Mantiqueira. E cruzando esse vale, o Rio Paraíba do Sul. É nessa região, a leste do Estado de São Paulo, que está localizado o Vale do Paraíba, umas das áreas mais afetadas pelas chuvas deste ano. Segundo levantamento da Defesa Civil, denominado Operação Verão e com dados de 1º de dezembro do ano passado até 08/01/2010, 17 municípios que compõem a região do Vale do Paraíba foram afetados pelas chuvas e dois deles, Cunha e São Luiz do Paraitinga, estão em estado de calamidade pública. Só no Vale do Paraíba, seis pessoas morreram e mais de 4 mil ficaram desabrigadas e outras 5 mil desalojadas por causa das chuvas. Uma pessoa ainda continua desaparecida na cidade de São Luiz do Paraitinga. “O Vale do Paraíba, com suas características de terreno e de ser um vale alongado, estreito e encaixado entre duas cadeias de montanhas, tem uma certa suscetibilidade, uma vulnerabilidade natural porque tem duas cabeceiras, duas regiões montanhosas que influenciam o clima local e a retenção e passagem das nuvens. E quando chove lá, os afluentes deságuam no Rio Paraíba do Sul”, explicou Paulo César Fernandes da Silva, geólogo, pesquisador e diretor adjunto do Instituto Geológico de São Paulo, vinculado à Secretaria estadual do Meio Ambiente. O que ocorre, segundo ele, é que parte da ocupação do Vale avançou até a planície do rio, onde ocorre o regime natural de inundação. “O ser humano foi ocupando várzeas e se ocupou de um terreno onde naturalmente o rio enchia. Em algum momento aquela região vai ficar alagada”, afirmou. Em entrevista à Agência Brasil nesta semana, o pesquisador afirmou que há um estudo em andamento no Instituto Geológico sobre o Vale do Paraíba e que já identificou, numa busca por jornais desde 1970 até hoje, que a região sofreu com enchentes e inundações pelo menos 1,5 mil vezes. Silva compara os eventos que ocorreram por causa das chuvas com os bolinhos de lama que são feitos nas brincadeiras de crianças e que se diluem se for acrescentada muita água a eles. “Quando o volume de chuva é grande, a história do bolinho de terra vai ocorrer. Chega uma hora em que o solo vai absorvendo a água e ela começa a ir para as camadas mais inferiores, mas há um momento em que se vai ter uma camada de argila ou, como no caso de Angra dos Reis (RJ), de rocha impermeável”, explicou. Quando esbarra com essas camadas mais impermeáveis, a água começa a saturar o solo e a subir. E então podem ocorrer as enchentes ou a movimentação do solo (como os deslizamentos de terra). De acordo com Silva, há três fatores que contribuem para que ocorram problemas como os que foram verificados nas cidades do Vale do Paraíba e também em Angra dos Reis: a característica do terreno e do relevo, o sistema atmosférico e o fator humano, o que envolve a ocupação e a falta de planejamento histórica. “No caso, tem até uma dimensão histórica, cultural, da nossa colonização, de nosso processo civilizatório de ocupação do solo. A perspectiva é de ir consertando, melhorando, de diminuir o número de erros. Mas a natureza está se manifestando, independente de nós, brasileiros. A natureza está dando manifestações de uma modificação que está mais rápida do que o usual, ao que tudo indica. E precisamos nos esforçar para encontrar um ritmo certo para nos adaptarmos a essas modificações”, afirmou.E a maneira de se prevenir eventos como esse, defende Silva, é com planejamento, o que envolve bons planos diretores municipais, mapeamentos, ordenamento territorial e zoneamentos ecológicos e econômicos e que, em sua visão, estão começando a ser feitos, embora ainda não na velocidade desejada.

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