sábado, 13 de fevereiro de 2010

Adaptar-se ou morrer

Espécies devem reagir às mudanças que ocorrem em seu entorno e adaptar-se a elas, ou morrerão. Mapa do deslocamento de espécies na baía de São Francisco, EUA, em razão das mudanças climáticas. Corrida das espécies para salvar-se da mudança climática – A grande mudança de escala planetária que elas enfrentam hoje é, evidentemente, o aquecimento global, e a pesquisa sobre sua reação é importante não só para antecipar o que vai acontecer com a biodiversidade do planeta, como também para dar uma mão, pelo menos nos espaços protegidos, e ajudar as espécies a acompanhar o ritmo da mudança climática. Esse ritmo não é um conceito vago, mas uma quantificação precisa para uma equipe de pesquisadores americanos, que calculou um índice de velocidade da mudança climática e que determina com que rapidez as espécies devem se deslocar pelo território neste século para se adaptarem ao aumento da temperatura. Concretamente, a velocidade média de segurança calculada por Scott R. Loarie e seus colegas é de 420 metros por ano. Deve-se levar em conta que, devido ao aquecimento global, os padrões climáticos se deslocaram para as latitudes altas do planeta e para as elevações do território. A nova pesquisa, divulgada no último número da revista “Nature”, mostra que a velocidade da mudança climática não é, obviamente, igual para todas as espécies, topografias e ecossistemas. Por exemplo, para os entornos montanhosos, nos quais a temperatura varia com uma pequena mudança de altitude, basta que as espécies se desloquem 10 metros por ano para acompanhar o ritmo do aquecimento, por isso pode-se esperar que no próximo século a biodiversidade aumentará nas zonas de montanha. Um pouco inferior, inclusive, é a velocidade necessária nas florestas tropicais e subtropicais de coníferas. No entanto, nos territórios planos, especialmente em desertos, em manguezais, em áreas pantanosas de campos e savanas, a velocidade exigida é superior, até 1,26 km por ano para estas últimas. “Um aspecto importante desses resultados é que nos permitem avaliar como nossas áreas protegidas atuais responderão às tentativas de conservar a biodiversidade diante da mudança climática”, explica Healy Hamilton, um dos autores da pesquisa. Com esses dados em mãos, os especialistas calculam que só 8% dos espaços protegidos no mundo terão daqui a cem anos as mesmas condições climáticas que hoje. As áreas altamente modificadas pela ação humana que rodeiam as áreas protegidas deixam sem espaço de fuga as espécies que não podem se deslocar para novos territórios com condições favoráveis para sua sobrevivência. Também a fragmentação do terreno coloca barreiras intransponíveis para muitas espécies. “No entanto, há diferenças regionais notáveis”, advertem os pesquisadores. “O pequeno tamanho e a fragmentação do território na maioria das áreas protegidas de florestas do tipo mediterrâneo fazem que esses habitantes sejam especialmente vulneráveis.” Nos entornos com velocidades mais baixas (como os montanhosos), as áreas de proteção exigidas para conservar as espécies e os ecossistemas podem ser de tamanhos moderados. Os autores da pesquisa, pertencentes a prestigiosas instituições americanas (Academia de Ciências da Califórnia, Instituto Carnegie, Universidade Stanford e Universidade de Berkeley), advertem que o que eles elaboraram não é um indicador de migração das espécies, mas um índice de velocidades relativas para acompanhar o ritmo do aquecimento. Eles se concentraram nas mudanças de temperaturas médias anuais, mas acrescentam que também realizaram análises baseadas nos regimes de precipitações e que mostram padrões semelhantes. Também não cabe buscar nesse trabalho a resposta sobre o futuro de espécies concretas. Mas os investigadores advertem que as espécies que têm um amplo grau de tolerância à temperatura podem, obviamente, adaptar-se ao aquecimento em sua zona habitual sem necessidade de deslocar-se. No entanto, para as que são mais estritas em suas necessidades vitais, a velocidade da mudança climática calculada é um bom indicador do ritmo do deslocamento necessário para evitar sua extinção. Loarie e seus colegas fizeram seus indicadores combinando os modelos de projeção climática com os dados do clima atual e os gradientes de temperatura em todo o mundo. Eles aplicaram vários cenários de emissões (os climatologistas trabalham com cenários possíveis de futuro definidos por fatores socioeconômicos, uso da energia, tecnologias, população, etc.), mas se concentraram especialmente no denominado A1B, que descreve um mundo futuro com crescimento médio dos gases do efeito estufa. O que está claro, salientam os especialistas, é que para conservar a biodiversidade é necessário conter o aquecimento, mas também se devem tomar medidas de gestão e planejamento dos espaços protegidos, e para isso é útil a pesquisa dos californianos. “É preciso desacelerar o gradiente temporal da mudança climática reduzindo as emissões, com o que se aumenta a capacidade das plantas e dos animais para se dispersar pelas relocalizações que façam, ou aumentar o tamanho das áreas protegidas mediante corredores de hábitats e novas reservas”, concluem Loarie e seus colegas.

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