segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os EUA são culpados pelo fracasso de Copenhague

Funcionário do Departamento de Meio Ambiente do país, ele diz que o mundo é refém de senadores americanos. Ele chorou e conseguiu bloquear as negociações climáticas da Conferência do Clima da ONU em Copenhague, a COP-15, no fim do ano passado. Ian Fry, principal negociador de Tuvalu na área climática e funcionário do Departamento de Meio Ambiente do país, ganhou os holofotes com seus discursos na Dinamarca. Ele exigia a assinatura de um acordo com força jurídica, a única forma de garantir a sobrevivência de Tuvalu, o que não ocorreu. Na época, Fry evitou falar com a imprensa - dizia que o evento não era uma "egotrip" -, mas vídeos de seus discursos correram o mundo. "Acordei esta manhã chorando. E isso não é fácil para um homem crescido admitir. O futuro do meu país está em suas mãos", disse em um deles. Um mês após o término da COP-15, ele falou ao Estado. A população de Tuvalu vive a menos de dois metros acima do nível do mar. As pessoas já sofrem impactos das mudanças climáticas? O nível do mar atual não tem afetado diretamente os tuvaluanos, apesar de Tuvalu ter altas marés em fevereiro e março e parecer que elas estão piorando. Isso significa que as pessoas precisam andar com água na altura dos joelhos para chegar em casa. A produção de alimento também é afetada. Mas o mais provável efeito imediato da mudança climática, segundo a previsão do painel do clima da ONU (IPCC), será mais ciclones graves. Quando ciclones atingem Tuvalu, as ondas lavam a ilha, destroem casas e ameaçam vidas. O que Tuvalu tem feito para evitar os problemas que virão com o aumento da temperatura? O governo está fazendo pesquisas, com a assistência do governo japonês para avaliar se a areia da lagoa de Funafuti (a capital) pode ser retirada para ajudar a elevar a ilha. Mas é provável que esse seja um programa extremamente caro. Tuvalu, sendo um país menos desenvolvido, não tem os recursos financeiros para fazer o trabalho por conta própria. A saída seria procurar financiamento por meio do Fundo de Adaptação, mesmo sabendo que o dinheiro pode não ser suficiente. Temos feito um trabalho de proteção costeira, com plantação de árvores e distribuição de tanques de água doce para todas as ilhas. A escassez de água potável deve ser um problema crescente. Tuvalu ficou muito frustrado com o fracasso da COP-15. Quais foram os maiores problemas? Ficamos muito frustrados por uma série de razões. Primeiro porque tínhamos a expectativa de que a COP-15 consideraria as propostas legais que haviam sido apresentadas pelas partes seis meses antes. Em junho de 2009, Tuvalu preparou um Protocolo de Copenhague e emendas ao Protocolo de Kyoto, e tínhamos a esperança de que isso seria levado em conta na Dinamarca. O governo dinamarquês tem certa culpa. Criou uma expectativa tão baixa no início da reunião que foi muito difícil alterar o quadro, mesmo com a chegada de 115 chefes de Estado. A segunda razão foi a tentativa de trazer uma declaração política para tentar disfarçar a falta de resultado. Foi um exercício vergonhoso. O acordo que saiu do processo da declaração política é inútil. Como eu disse na plenária, era como se estivessem oferecendo 30 peças de prata para trair nossos países e nosso futuro. Mas o futuro de Tuvalu não está à venda. Quem são os culpados pela falta de resultados? A maior culpa deve recair sobre os Estados Unidos. Durante anos eles se recusaram a ratificar o Protocolo de Kyoto e, quando o presidente Barack Obama chegou a Copenhague, não tinha nada a propor, a não ser algumas rasas ofertas de dinheiro. Pelo fato de a lei de clima americana ainda estar presa no Senado, Obama não tinha nada para colocar na mesa. Sem uma oferta concreta dos EUA, era evidente que outras economias emergentes, como a China, não iriam se mover para fornecer ofertas substanciais de redução das suas emissões. Com efeito, o mundo está sendo mantido refém por um grupo de senadores dos EUA. E essa não é uma situação saudável para um assunto tão importante. Em termos de financiamento, já foi feita alguma oferta para Tuvalu? Quanto é necessário para a adaptação às mudanças climáticas? É difícil estimar a quantia de dinheiro necessária para que Tuvalu sobreviva ao aquecimento global. As ações para fazer a adaptação para as mudanças climáticas são complexas. Além do aumento do nível do mar, Tuvalu deve ser afetado pelo branqueamento de corais. Isso acontece quando eles morrem em decorrência do aumento da temperatura da água. Achar soluções para essa questão é extremamente difícil. Os corais também enfraquecem com a acidificação do oceano relacionada ao aumento dos níveis de dióxido de carbono dissolvido na água do mar. Como Tuvalu é um atol de corais, toda a nação é construída sobre a fundação do coral e de areia produzida por ele. A principal fonte de proteína para os tuvaluanos vem dos peixes, que são altamente dependentes de corais. Por isso, é difícil colocar um valor dos custos de adaptação aos impactos das alterações climáticas. O que é preciso ser feito neste ano para evitar o fracasso na COP-16, no México? Antes de mais nada, os EUA precisam aprovar sua lei doméstica de mudanças climáticas. Depois que isso for feito, podemos, coletivamente, começar a construir um acordo legalmente vinculante. Também precisamos que os países industrializados se comprometam com a continuação do Protocolo de Kyoto, o que é extremamente importante, já que ele estabelece normas para as reduções de emissões no mundo desenvolvido. Se abandonarmos Kyoto, teremos um retrocesso em nossos esforços para combater as mudanças climáticas. Para isso, o que precisamos são de significativos esforços diplomáticos. Os EUA e as grandes economias em desenvolvimento também terão de fazer contribuições significativas para reduzir suas emissões de gases que provocam o efeito estufa. Tavulu é um arquipélago de ilhas que fica ao nordeste da Austrália e a leste de Nova Guiné, na Oceania. A capital Funafuti é um atol (ilha em forma de anel com uma lagoa no centro) formado por mais de 30 ilhas. A maior delas é Fongafale. Raio X de Tuvulu O que é: Um Estado – ilha, formado por um grupo de nove atóis, antes chamado Ilhas Ellice. Capital: Funafuti Extensão territorial: 26 Km² População: aproximadamente 12.000 pessoas Língua: inglês e tuvaluano Fragilidades: com o aquecimento global e consequente elevação do nível dos oceanos, o território corre o risco de desaparecer. Além disso, o aumento da frequência de ciclones pode prejudicar ainda mais Tuvalu

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