Caso você ainda não tenha notado, o abastecimento de São
Paulo está à beira do colapso.
Aproveitando o momento da publicação de mais um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), gostaria de entender o seguinte:
Sempre que há qualquer ameaça de crise no sistema de abastecimento de energia no Brasil, isso vira um escândalo nacional. É manchete dos jornais, capa das revistas e tema de abertura dos noticiários na televisão. Mesmo que seja uma projeção de crise para daqui 10 ou 20 anos, não importa. A sociedade não aceita ficar sem energia elétrica nem por um segundo, e cobra seus governantes com relação a isso. Com razão.
No entanto, quando de trata de água, tudo parece correr numa
tranquilidade insana. Por quê?
Caso você não tenha se dado conta disso ainda, atenção:
O
PRINCIPAL SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE SÃO PAULO ESTÁ À BEIRA DO
COLAPSO!!!
O nível do Sistema Cantareira chegou ontem ao seu índice mais baixo
na história: 13,4%. E vai continuar caindo e batendo recordes um dia após o
outro daqui para frente. Estamos às vésperas de abril, já é outono, e o que
tinha de importante pra chover neste ano já choveu. Se você ainda está na
esperança de que a solução vai cair do céu como um milagre, pode tirar o
cavalinho da chuva, que essa chuva não vai chegar. E pior: o pouco que resta de
água no sistema (o chamado “volume morto”, que a Sabesp agora passou a chamar
de “reserva estratégica”) vai ser sugado por bombas nos próximos meses, para
evitar um desabastecimento generalizado da metrópole bem no meio da Copa do Mundo.
Fica a pergunta: E quando essa “reserva estratégica” acabar?
Vamos tirar água de onde no ano que vem? Mesmo que, por sorte, chova MUITO no
verão de 2015, o nível das represas não vai subir mais do que uns 10% ou 15%.
Ou seja: vamos continuar na crise! A água do Cantareira não acabou do dia para
a noite, e também não vai voltar do dia para a noite. Levou vários anos para
esvaziar, e vai levar vários anos para encher os reservatórios de novo … se
encher.
No curto prazo, só temos três opções:
1) Ficar sem água agora;
2) Drenar todo o sistema agora, e ficar sem água amanhã; ou
3) Rezar por um dilúvio.
No entanto, ninguém parece estar muito preocupado com isso.
Não que a imprensa esteja ignorando o fato, de forma alguma.
Mas cadê o senso de urgência? Cadê a indignação da sociedade? Cadê a cobrança
aos governantes? Cadê a água???
Eletricidade, por acaso, é mais importante do que água? Se
alguém for capaz de sobreviver enfiando o dedo numa tomada, por favor me avise.
Sem água, a gente não fica só no escuro; a gente morre, as
plantações secam e as indústrias param de produzir também. Simples assim. Não
tem nada nesse momento, para nós paulistas e paulistanos (e muito em breve,
também, para os nossos vizinhos fluminenses e cariocas), que seja mais
importante do que essa crise da água. Nada!
Mas fique tranquilo, que água no Tietê e no Pinheiros para
continuarmos jogando nosso esgoto não vai faltar. (OESP)
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