segunda-feira, 29 de junho de 2015

Seminário sobre mudança climática e gestão de recursos hídricos

Inscrições abertas para seminário gratuito na FIRJAN sobre mudança do clima e gestão de recursos hídricos
Ministro da Divisão de Clima do Itamaraty discutirá as perspectivas para a COP21 no Seminário Ação Ambiental.
Casos de sucesso de gestão da água e lançamento do Manual de Licenciamento Ambiental também serão destaques do evento, que acontece em 30 de junho e 1º de julho/15.
Para debater os desafios sobre a mudança do clima e o uso eficiente da água, o Sistema FIRJAN promove, gratuitamente, nos próximos dias 30 de junho e 1º de julho, o Seminário Ação Ambiental. O ministro da Divisão de Clima do Itamaraty, Everton Lucero, participará do primeiro dia do evento para destacar as perspectivas do Brasil para a COP21, que acontece em dezembro e reúne 196 países para a criação de um novo acordo sobre emissões de Gases de Efeito Estufa.
Em 1º de julho/15 o debate será sobre a gestão eficiente da água na indústria. Segundo levantamento do Sistema FIRJAN, o setor industrial, responsável por 827 mil empregos diretos, vem fazendo sua parte: nos últimos dois anos, 56,7% das indústrias fluminenses adotaram ações de racionalização do uso da água, o que levou a uma redução de 25,6% no gasto de água nesse período.
Cases sustentáveis que evidenciam essa economia serão apresentados, como o Aquapolo Ambiental, maior empreendimento para a produção de água de reuso industrial na América do Sul e quinto maior do planeta. O projeto fornece 650 litros por segundo de água de reuso para o Polo Petroquímico da Região do ABC Paulista, em São Paulo, e economiza por mês 2,58 bilhões de litros de água potável.
Além do Aquapolo, serão apresentados cases da Casa da Moeda e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A ideia é debater sobre os projetos existentes para incentivar a criação de uma iniciativa sustentável no estado do Rio. Outro destaque importante será o lançamento do Manual de Licenciamento Ambiental, guia que sintetiza os principais passos do processo para qualquer atividade em funcionamento ou que deseje se instalar no Rio de Janeiro. Depois do evento, o manual ficará disponível para download gratuito no site: www.firjan.org.br.
Premiação para práticas sustentáveis
O Sistema FIRJAN entregará no seminário o Prêmio FIRJAN Ação Ambiental, que valoriza boas práticas ambientais de indústrias do estado do Rio. A premiação reconhece o aprimoramento das indústrias fluminenses de todos os portes em processos produtivos, implantação de projetos socioambientais e iniciativas que vão além das obrigações legais em prol da sustentabilidade. Nesta terceira edição, serão contemplados projetos em cinco categorias: Gestão de Água e Efluentes; Biodiversidade; Gestão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) e Eficiência Energética; Gestão de Resíduos Sólidos; e Relação com Públicos de Interesse.
O Seminário Ação Ambiental também contará com a presença de representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); do Ministério do Meio Ambiente; da Prefeitura do Rio, da Fundação Boticário; da Braskem; da Universidade de São Paulo (USP) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O evento acontece na sede do Sistema FIRJAN, de 14h às 18h: Avenida Graça Aranha, número 1 – Centro do Rio. As vagas são limitadas. Inscreva-se gratuitamente e confira a programação completa no site www.firjan.org.br/acaoambiental ou ligue para 0800 0231 231.
EVENTO: SEMINÁRIO AÇÃO AMBIENTAL
DATA: 30 DE JUNHO E 1º DE JULHO
HORÁRIO: 14H ÀS 18H
LOCAL: FIRJAN – AV. GRAÇA ARANHA 1 – 2º ANDAR – CENTRO DO RIO (ecodebate)

Alterações climáticas ameaçam saúde humana

Alterações climáticas ameaçam saúde humana, aponta pesquisa
As alterações climáticas representam uma ameaça aos avanços conseguidos no último meio século para a saúde humana, alerta estudo divulgado em 23/6/15 pela revista The Lancet.
Os autores do trabalho, cientistas europeus e chineses, consideram que “o risco potencial” do aquecimento do planeta para a saúde dos seres humanos tem sido subestimado.
“As alterações climáticas constituem emergência médica e, portanto, requerem resposta urgente”, afirmou Hugh Montgomery, diretor do Instituto para a Saúde Humana do University College London (UCL).
O documento diz que o impacto direto das alterações climáticas na saúde das pessoas resulta da maior frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, inundações, secas e tempestades.
As alterações climáticas têm também consequências indiretas para os seres humanos, como mudanças nos padrões de propagação de doenças infecciosas, aumento da poluição atmosférica, insegurança alimentar e má nutrição.
“As alterações climáticas têm o potencial de reverter as melhorias verificadas na saúde que o desenvolvimento econômico conseguiu nas últimas décadas”, disse Anthony Costello, responsável pelo Instituto para a Saúde Global do UCL. (ecodebate)

Mudanças climáticas provocarão aumento de 4,3°C

Mudanças climáticas podem provocar aumento de 4,3°C em 2100, alerta AIE
Eventos climáticos extremos serão uma das consequências das mudanças climáticas.
A Agência Internacional de Energia (AIE) declarou em 15/06/15 que as mudanças climáticas podem provocar um aumento de temperaturas de mais de 4ºC. O órgão fez um apelo para que mais esforços sejam feitos para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Em um relatório publicado antes da conferência contra as mudanças climáticas de Paris, em dezembro, a AIE diz que os atuais compromissos internacionais “terão um impacto positivo (…) mas não bastarão” para alcançar o objetivo de que a temperatura média mundial não suba mais de 2ºC.
Tomando como referência os compromissos atuais dos países e as políticas dos que não adotaram compromissos, como a Índia, a AIE estima que a temperatura média mundial terá aumentado 2,6ºC em 2100.
No hemisfério norte, onde vive a maioria da população mundial, o aumento será de 4,3ºC, e cidades como Paris podem começar a sofrer ondas de calor, mais próprias do sul da Europa.
Eventos extremos
As mudanças serão acompanhadas de “um maior número de acontecimentos meteorológicos extremos”, disse Fatih Birol, economista chefe da AIE, afirmando que a África, que quase não contribuiu para as mudanças climáticas, sofrerá a pior parte, sobretudo na forma de secas. (ecodebate)

Avaliações de extremos climáticos na Amazônia

Pesquisa avalia impactos dos extremos climáticos na Amazônia
As projeções do IPCC, do INPE e de outros grupos apontam para um aumento dos extremos hidrológicos na região.
Seca e cheia são fenômenos naturais na Amazônia, aos quais as comunidades ribeirinhas encontram-se bem adaptadas. Nos últimos anos, porém, esses eventos têm se tornado mais extremos, deixando moradores de locais remotos cada vez mais sujeitos à escassez de água, alimentos e sem acesso a transporte, serviços de saúde ou de ensino.
As conclusões são de um estudo conduzido por Patricia Pinho, professora visitante do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e associada da rede INCLINE de pesquisas interdisciplinares em mudanças climáticas. Os dados foram apresentados durante a FAPESP Week UC Davis in Brazil - evento que reuniu em maio 26 cientistas da Universidade da Califórnia (UC) em Davis, nos Estados Unidos, e de instituições paulistas.
“Nos últimos anos, a bacia amazônica experimentou um aumento na variabilidade interanual, principalmente no que se refere ao início e ao fim do período de chuvas. Tentamos mapear até que ponto as comunidades locais percebem esses eventos como extremos, quais são as respostas adaptativas que apresentam e os limites de adaptação”, contou Pinho à Agência FAPESP.
O estudo teve como foco o município de Silves (AM), situado a 400 quilômetros de Manaus, e a Floresta Nacional do Tapajós (Flona), área de preservação localizada no estado do Pará.
Por meio de dados observacionais e entrevistas pessoais, Pinho avaliou como os moradores dessas localidades perceberam as secas extremas registradas nos anos de 1997, 2005 e 2010, bem como as enchentes severas de 2006, 2009 e 2015.
De acordo com a pesquisadora, as secas de 1997 e 2010 estão relacionadas com o fenômeno conhecido como El Niño, caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical. Já em 2005 foram registradas anomalias de temperatura nas águas do Atlântico Tropical Norte.
As enchentes foram relacionadas em estudos anteriores com o fenômeno La Niña, que corresponde ao resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental.
“O ponto é: os dois extremos estão se tornando mais frequentes na Amazônia. E as projeções do IPCC [Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas], do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] e de outros grupos apontam para um aumento dos extremos hidrológicos na região”, afirmou Pinho.
Após analisar dados sobre o nível do rio Amazonas registrados em Manaus entre os anos de 1900 e 2010, Pinho concluiu que o recorde mínimo vem caindo nos últimos anos, assim como tem aumentado o recorde máximo – indicando aumento da variabilidade interanual nesse sistema fluvial.
“A economia da bacia amazônica – onde moram 30 milhões de pessoas – está diretamente associada à dinâmica do ciclo hidrológico. O fluxo dos rios determina a organização dos assentamentos humanos, a posse da terra, o sistema de produção e a organização social. Quaisquer alterações nas provisões do ecossistema causam uma pressão imediata sobre essa população, na qual o índice de pobreza [42%] é bem maior que a média do país [29%]”, afirmou Pinho.
Os principais impactos da seca observados no estudo foram a alta mortalidade dos peixes (principal fonte de proteína na região) e das plantações, além da escassez de água potável. A interrupção no principal meio de transporte – o fluvial – dificultou o acesso dos moradores aos mercados locais, agravando a insegurança alimentar e impossibilitando o acesso a serviços de saúde e escolas.
Curiosamente, também durante as cheias Pinho observou escassez de água potável e maior dificuldade na pesca, pois os cardumes ficam mais espalhados. Além disso, as enchentes destruíram as casas, prejudicaram as atividades extrativistas, causaram morte de animais de criação, das plantações, surto de doenças como malária e diarreia.
“Os ribeirinhos acompanham o ritmo de subida e descida da água dos rios e são capazes, até certo ponto, de saber se o período de seca e de cheia será severo e se há necessidade de se mudar ou adotar outra medida de proteção. Mas esses eventos avaliados no estudo foram além de suas capacidades de adaptação e, como aconteceram muito perto uns dos outros, ficou ainda mais difícil para os ribeirinhos a recuperação”, contou Pinho.
“Embora essas comunidades sejam resilientes a grandes variações no nível dos rios, estão se tornando mais vulneráveis à medida que crescem as incertezas de que os eventos se tornaram mais extremos e mais frequentes”, concluiu.
Falta de apoio
Outro problema apontado por Pinho é a demora do poder público para oferecer qualquer tipo de suporte aos moradores das regiões estudadas. Segundo ela, a Defesa Civil seria a responsável por implementar ações preventivas, fazer avaliação de risco e prestar apoio quando as emergências ocorrerem.
“Mas observamos a falta de pessoas capacitadas e atraso nas ações. Não há medidas preventivas. As autoridades municipais precisam solicitar auxílio à esfera estadual, que repassa a petição à esfera federal e só então o suporte é liberado. É preciso criar mecanismos para acelerar esse processo”, disse Pinho.
A pesquisadora ressalta a necessidade de políticas públicas para melhorar a governança e garantir o bem-estar dessas populações, bem como investimentos em estradas e meios de transporte alternativos, escolas e perfuração de poços.
“Os brasileiros estão acostumados a associar eventos extremos como a seca à região Nordeste, mas agora a Amazônia também está sendo drasticamente impactada e observamos uma resposta governamental muito limitada.”
Pinho também aponta a necessidade de pesquisas que ajudem a aperfeiçoar os modelos climáticos, tornando-os capazes de prever eventos extremos e permitindo a criação de um sistema de alerta precoce.
“A ciência ainda está incipiente e há muita incerteza sobre qual vai ser a resposta da Amazônia às mudanças climáticas. Temos um modelo global, que agora precisamos regionalizar, deixar numa escala mais fina e para isso precisamos aliar esses dados observacionais às pesquisas feitas em escala local”, disse. (ecodebate)

Mudanças climáticas desafiam governos mundiais

Mudanças climáticas desafiam ações de governos no mundo
O Brasil ocupa lugar privilegiado no mapa da nossa casa mãe, o planeta Terra.
Estamos entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.
Temos um clima bem temperado.
Mas como a vida no planeta está toda interligada, não são poucos os sinais de que o planeta está chegando à exaustão e nosso clima está mudando. (ecodebate)

Brasi está preocupado com mudanças climáticas

Brasileiro está preocupado com mudanças climáticas, diz pesquisa
O brasileiro está preocupado com as mudanças climáticas e acredita que o governo tem feito muito pouco para enfrentar o problema. É o que mostra uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Observatório do Clima e pelo Greenpeace Brasil, para medir o conhecimento e preocupação da população brasileira com as mudanças climáticas e o grau de informação sobre a microgeração de energia solar, aquela que é colocada nos telhados das casas.
Segundo a pesquisa, 91% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas são causa de muita preocupação com o futuro do planeta e 95% acham que elas já estão afetando o Brasil. Nove em cada dez entrevistados apontaram que as crises na água e na energia têm relação com as mudanças do clima, sendo que, para 74% desse total, há muita relação entre a falta de água e de luz e as alterações no clima.
“A grande maioria dos brasileiros já conhece um pouco a respeito do tema e sabe apontar quais são suas causas; sabe relacionar os desafios das mudanças climáticas à sua vida diária como a questão da crise hidrológica, hídrica e do risco de crise energética; e também sabe apontar quais seriam, no caso do Brasil, as soluções, como o combate ao desmatamento, o investimento em energias renováveis e investimento em transporte coletivo”, afirmou Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, em entrevista à Agência Brasil.
Para grande parte dos entrevistados [84% do total], o governo não faz nada, ou muito pouco, para enfrentar o problema. Entre as soluções apontadas, estão a redução do desmatamento [86% concordaram com essa afirmação], investimento em energias renováveis [83% do total] e melhorias no transporte coletivo [81%].
“A grande maioria [das pessoas] também acha que o governo brasileiro não fez nada até agora ou fez muito pouco. Isso é um indicativo de que, por mais que o Brasil tenha feito esforços, até o momento eles não foram suficientes, na opinião dos brasileiros, para que se enfrente o problema com responsabilidade. E dois terços dos entrevistados disseram ainda que esperam do Brasil uma liderança nas questões internacionais e que ajude no enfrentamento das mudanças climáticas”, disse o secretário executivo.
Os entrevistados também foram indagados sobre os causadores das mudanças climáticas e a maioria deles apontou que o desmatamento [95% do total] contribui para o problema. Eles também apontaram a queima do petróleo [93% apontaram este problema], as atividades industriais [92%] e a queima do carvão mineral [90%] como causadores das mudanças climáticas.
A pesquisa mostrou ainda que 62% dos entrevistados estão dispostos a instalar um sistema de microgeração de energia solar em casa. Diante da hipótese de ter acesso a uma linha de crédito com juros baixos e a possibilidade de vender o excesso de energia para a rede elétrica, o percentual de interessados subiu para 71%. “Essa fonte de energia é, sim, uma solução viável, e em escala, para o Brasil, desde que a gente tenha vontade política e tome decisões para investimentos adequados”, disse Rittl.
Para a pesquisa, foram ouvidas 2,1 mil pessoas com mais de 16 anos e que vivem em 143 municípios de pequeno, médio e grande porte em todo o país. As entrevistas foram realizadas entre os dias 11 e 13 de março. A margem de erro do estudo é de 2% para cima ou para baixo. (ecodebate)

sábado, 27 de junho de 2015

O Papa, o aquecimento global e a encíclica ecológica

A encíclica ecológica do papa Francisco – cujo título “Laudato Si’” (“Louvado sejas”) faz referência ao Cântico das Criaturas, poema em que São Francisco de Assis chama o Sol, a Lua, a Água e a Terra de irmãos e irmãs – diz que o combate ao aquecimento global e à degradação do meio ambiente é um imperativo moral para todos os católicos. Em vez de dominar e explorar de forma predatória a natureza o ser humano deveria superar a “cultura do consumo e do descarte” e cuidar do meio ambiente
A encíclica é um chamado à ação e veio em boa hora, podendo contribuir com toda a luta ambientalista, com o engajamento dos cristãos na defesa dos ecossistemas, da biodiversidade e para que a Conferência das Partes (COP21) que vai reunir cerca de 200 países, em Paris, em dezembro de 2015, possa deliberar sobre um novo tratado do clima que substitua o limitado Protocolo de Kyoto, de 1997.
Os católicos somam cerca de 1,25 bilhão de pessoas e junto com 1,05 bilhão de evangélicos formam um contingente de 2,3 bilhões de cristãos, representando 31,5% da população mundial de 7,3 bilhões de habitantes em 2015. O Papa não tem divisões de guerra, mas tem força moral para influenciar a opinião pública católica, cristã e até mesmo de outras religiões e das pessoas sem filiação religiosa. Mas, independentemente do tamanho do seu rebanho, a mensagem do papa Francisco tem um apelo global sobre “o cuidado da casa comum” e no reconhecimento de que a intervenção humana está por detrás das alterações climáticas e da destruição sem precedentes dos ecossistemas da Terra.
O mais importante a destacar é que a Santa Sé reconheceu “Inúmeros estudos científicos que demonstram que nas últimas décadas o aquecimento global foi principalmente resultado de uma grande concentração de gases com efeito de estufa em função da atividade humana”. O Papa censurou as pessoas e as atitudes que continuam travando uma solução para a elaboração de um acordo internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, criticou os céticos do clima que negam os fatores antropogênicos das mudanças climáticas e ironizou a crença ilimitada nas capacidades técnicas, como se o poder da tecnologia fosse uma força do mundo superior.
Na página 5 da encíclica o Papa clama por uma ação solidária universal: “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal”.
O Papa Francisco reconhece que o ambiente natural está cheio de feridas produzidas pelo comportamento irresponsável do ser humano e, entre as ações e medidas urgentes apontadas para atacar o problema e mitigar a crise ambiental, ele propõe a substituição dos combustíveis fósseis e o investimento em energias renováveis. Também preconiza uma mudança do paradigma do “consumismo desenfreado” das sociedades ocidentais, que “crescentemente está a transformar o nosso planeta numa imensa lixeira”. O trecho abaixo é bastante elucidativo:
O clima é um bem comum, um bem de todos e para todos. Em nível global é um sistema complexo, que tem a ver com muitas condições essenciais para a vida humana. Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenômeno particular. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores (tais como o vulcanismo, as variações da órbita e do eixo terrestre, o ciclo solar), mas numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa (anidrido carbônico, metano, óxido de azoto, e outros) emitidos, sobretudo por causa da atividade humana. A sua concentração na atmosfera impede que o calor dos raios solares refletidos pela terra se dilua no espaço. Isto é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis, que está no centro do sistema energético mundial. E incidiu também a prática crescente de mudar a utilização do solo, principalmente o desflorestamento para finalidade agrícola” (p. 8).
Além da questão climática, a encíclica mostra o efeito da “carbonização” sobre os ecossistemas e sobre a cadeia alimentar: “Por sua vez, o aquecimento influi sobre o ciclo do carbono. Cria um ciclo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais quentes e provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta. O derretimento das calotas polares e dos glaciares a grande altitude ameaça com uma libertação, de alto risco, de gás metano, e a decomposição da matéria orgânica congelada poderia acentuar ainda mais a emissão de anidrido carbônico. Entretanto a perda das florestas tropicais piora a situação, pois estas ajudam a mitigar a mudança climática. A poluição produzida pelo anidrido carbônico aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha. Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós. Por exemplo, a subida do nível do mar pode criar situações de extrema gravidade, se se considera que um quarto da população mundial vive à beira-mar ou muito perto dele, e a maior parte das megacidades está situada em áreas costeiras” (p. 9).
A encíclica considera que a propriedade privada em geral (e os recursos naturais em particular) é eticamente justificável apenas se servir ao bem comum. Apoia as negociações internacionais para redução das emissões nacionais de gases de efeito estufa e critica os mecanismos de mercado para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis: “A estratégia de compra-venda de ‘créditos de emissão’ pode levar a uma nova forma de especulação, que não ajudaria a reduzir a emissão global de gases poluentes. Este sistema parece ser uma solução rápida e fácil, com a aparência dum certo compromisso com o meio ambiente, mas que não implica de forma alguma uma mudança radical à altura das circunstâncias. Pelo contrário, pode tornar-se um diversivo que permite sustentar o consumo excessivo de alguns países e sectores” (p. 53). Depois deste claro posicionamento, espera-se agora que o Vaticano se posicione sobre a campanha do “desinvestimento” e a saída do banco do Vaticano dos investimentos em combustíveis fósseis.
A encíclica mostra que o efeito do aquecimento global e da degradação ambiental deve recair sobre os pobres, especialmente dos países mais pobres, e vai afetar muitos refugiados do clima. O Papa critica “os modelos atuais de produção e consumo” e denuncia as tentativas de “mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas”. Ele defende a difusão da energia limpa e renovável, a eficiência energética, e o menor uso de matérias-primas (desmaterialização). A encíclica considera a água um bem essencial para a vida humana e não humana: “A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos” (p. 10). Uma crise hídrica provoca uma crise alimentar e pode ser motivo de guerras. O Papa defende a biodiversidade: “A perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies” (p. 11). “Os danos provocados pela negligência egoísta” provoca “os altíssimos custos da degradação ambiental”.
Na página 12, o Papa menciona “os pulmões do planeta repletos de biodiversidade que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo” e em seguida, influenciado pelo pensamento patriótico, critica “os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar deles (pulmões do planeta), podem atentar contra as soberanias nacionais”. Mesmo sendo verdade, o Papa deixou de falar da destruição da Amazônia que é provocada por forças econômicas “tupiniquins”, com a destruição provocada pelos garimpeiros, madeireiros, pela Usina de Belo Monte, pelo agronegócio, pela Zona Franca de Manaus, pelas rodovias e ferrovias projetadas, etc. Ainda no item “3. Perda de biodiversidade”, a encíclica critica o “desaparecimento dos manguezais”, a sobrepesca, a destruição dos recifes de corais, a poluição dos oceanos e defende todas as “espécies em vias de extinção”.
Na seção “Deterioração da qualidade de vida humana e degradação social” (p. 14), o Papa critica a insustentabilidade das grandes cidades, a imobilidade urbana a gentrificação, a violência, o narcotráfico, etc. Na seção seguinte critica as desigualdades e diz: “A desigualdade não afeta apenas os indivíduos, mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul”. E completa: “A dívida externa dos países pobres transformou-se num instrumento de controle, mas não se dá o mesmo com a dívida ecológica” (p. 17). Criticando a exploração dos países ricos sobre os pobres, o Papa ataca a “globalização da indiferença” (p. 17). Evidentemente, reforçar a ideia das “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” é super correto, porém, parece que a encíclica não foi critica o suficiente com as “elites nacionais” que degradam o ambiente e concentram a renda e a riqueza nos diversos países pobres ou de renda média.
Como escrevi no artigo “Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos?” (Alves, 19/07/2013): “Os 5,6 bilhões de habitantes dos países de renda baixa e de renda média (países em desenvolvimento), em 2008, tinham uma pegada ecológica total de 12,2 bilhões de hectares globais (gha), superior à capacidade de carga (biocapacidade) do Planeta. Desta forma, mesmo em uma situação hipotética em que os países ricos chegassem a zero em sua pegada ecológica, ainda assim o mundo estaria com problema ambiental e com uma Pegada Ecológica acima da Biocapacidade. E o pior é que os países do chamado “sul global” continuam com população em crescimento e com um modelo econômico que mimetiza o que tem de pior nos países desenvolvidos”. Ou seja, os países ricos tem uma dívida com os países pobres, mas ambos têm uma dívida com o meio ambiente. Os países pobres são vítimas, mas não deixam de ser também ecologicamente agressores da natureza. Assim, um dos grandes desafios globais é erradicar a pobreza no Terceiro Mundo sem destruir ainda mais os ecossistemas.
Neste sentido, o Papa fortalece de forma explícita a ideia do decrescimento das economias que vivem na superabundância. Ele diz: “Assim, se nalguns casos o desenvolvimento sustentável implicará novas modalidades para crescer, noutros casos – face ao crescimento ganancioso e irresponsável, que se verificou ao longo de muitas décadas – devemos pensar também em abrandar um pouco a marcha, pôr alguns limites razoáveis e até mesmo retroceder antes que seja tarde. Sabemos que é insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade humana. Por isso, chegou a hora de aceitar certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes” (p. 60). Ou seja, numa situação de crescimento vegetativo negativo da população dos países ricos, o decrescimento da economia e do consumo vai possibilitar a redução das emissões de gases de efeito estufa e a redução da degradação ambiental.
O Capítulo II, “O Evangelho da Criação” (p. 20) faz uma abordagem teológica das questões ambientais. O Capítulo III, “A Raiz Humana da Crise Ecológica” (p. 32) o Papa fala do poder da tecnologia e dos avanços do progresso humano, mas acrescenta: “cresce continuamente a possibilidade de o homem fazer mau uso do seu poder” (p. 33). Na página 37 a encíclica aparentemente critica o antropocentrismo moderno e suas consequências: “O antropocentrismo moderno acabou, paradoxalmente, por colocar a razão técnica acima da realidade, porque este ser humano já não sente a natureza como norma válida nem como um refúgio vivente”. A crítica do Papa ao antropocentrismo ocorre em função da prevalência de “a razão técnica acima da realidade” (p. 37). Ou seja, o Papa está criticando mais o processo que Max Weber chamava de racionalização e desencantamento do mundo. O Papa contorna o princípio colocado no livro do Gênesis, do Velho Testamento, que diz: “Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Parece que, neste ponto, o Papa ficou aquém de São Francisco de Assis, embora busque substituir a ideia de “enchei a terra e sujeitai-a” por outra concepção mais amena: “Mas a interpretação correta do conceito de ser humano como senhor do universo é entendê-lo no sentido de administrador responsável” (p. 37). Ou seja, muda a ideia de ser humano dominador, para administrador.
A encíclica diz que a falta de preocupação por medir os danos à natureza e o impacto ambiental é apenas o reflexo do desinteresse em reconhecer a mensagem que a natureza traz inscrita nas suas próprias estruturas e faz uma defesa do pobre, da pessoa com deficiência e critica o aborto: “reconhece a importância dum pobre, dum embrião humano, duma pessoa com deficiência”. Assim, embora a encíclica lembre São Francisco ao defender os espaços anecúmenos do Planeta: “São Francisco pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto por cultivar para aí crescerem as ervas silvestres” (p. 5), o Papa volta a defender o antropocentrismo característico da cultura judaico-cristã, inclusive critica o biocentrismo: “Quando a pessoa humana é considerada apenas mais um ser entre outros, que provém de jogos do acaso ou dum determinismo físico, ‘corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade’. Um antropocentrismo desordenado não deve necessariamente ser substituído por um biocentrismo”. Neste ponto a encíclica se afasta de São Francisco de Assis e não fala nada sobre os crimes de especismo e ecocídio. A encíclica condena “experimentações sobre os animais”, mas não combate a alimentação cárnea e nem defende a dieta vegetariana, que estaria mais coerente com o espírito de São Francisco de Assis e a defesa de todos os seres vivos sencientes.
O Capítulo IV fala de “Uma Ecologia Integral” (p. 43) abarcando as dimensões econômica, social e ambiental: “A ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem. E isto exige se sentar a pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência duma sociedade, com a honestidade de pôr em questão modelos de desenvolvimento, produção e consumo. Nunca é demais insistir que tudo está interligado”. Reforçando as metodologias da Pegada Ecológica e das Fronteiras Planetárias o Papa chama a atenção para a possibilidade de um colapso ambiental: “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes, como, aliás, já está a acontecer periodicamente em várias regiões” (p. 50). Ele propõe outro estilo de vida, criticando “o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos” que gera um “consumismo obsessivo” (p. 63).
Não pretendo discutir todos os pontos da encíclica. Para não prolongar demais, comento um ponto que mostra a dubiedade da Igreja Católica em relação à dinâmica demográfica e aos direitos sexuais e reprodutivos. Na seção “5. Desigualdade planetária” a encíclica diz: “Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas econômicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva». Mas, ‘se é verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário’. Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas” (p. 16).
Realmente o padrão de consumo conspícuo e o “consumismo obsessivo” causam um dano enorme ao meio ambiente. Mas não dá para ignorar a questão do crescimento populacional ilimitado. Não existe consumo sem população e nem população sem consumo. É verdadeiro que não devemos colocar a culpa de todos os problemas ambientais no crescimento demográfico. Mas isto não justifica a posição da Igreja de ser contra os métodos contraceptivos e até contra os preservativos e o sexo seguro.
Ou seja, a Santa Sé precisa repensar a encíclica Humanae Vitae, lançada pelo papa Paulo VI, em 1968. Até setores da igreja são a favor de rever as posições contra os direitos sexuais e reprodutivos. “Em editorial de 23 de janeiro de 2015, a revista National Catholic Reporter afirma que a encíclica Humanae Vitae tem sido um sério impedimento à autoridade católica e que o seu texto criou um abismo entre os prelados e os padres, entre a hierarquia e os fiéis”. Ou seja, segundo setores da própria igreja Católica, há um clamor para rever a doutrina e as práticas e dogmas do Vaticano sobre a reprodução humana.
Enfim, já são esperadas criticas por parte dos setores conservadores, dos “céticos do clima” e dos neoliberais que acusam o Papa de ser populista, terceiro-mundista, contra o “livre mercado”, contra o crescimento econômico, anti-modernidade, catastrofista, a favor da teoria da dependência e de uma “ecologia da libertação”. Mas a encíclica “Laudato Si’” também deve ser criticada por setores de esquerda que apontam imprecisões, contradições e vários elementos populacionistas, anti-gênero e contra os direitos sexuais e reprodutivos. Todavia, será difícil não reconhecer o grande valor da encíclica no sentido de se posicionar em consonância ao conhecimento científico sobre o aquecimento global e de fazer uma defesa clara do meio ambiente, da biodiversidade e do duplo problema global a ser enfrentado no século XXI: “Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza” (p. 10).
Como disse o jornalista George Monbiot a encíclica do Papa Francisco é um “ponto de inflexão”, pois reafirma num momento crucial, antes da COP21, que a sobrevivência da humanidade depende da “proteção do mundo natural”, da superação da dependência aos combustíveis fósseis e da mudança do modelo de acumulação que leva ao “consumismo obsessivo” e à “cultura do descarte”, ou seja, à cultura do luxo e do lixo. A encíclica papal é antes de tudo uma mensagem de compaixão, amor e defesa dos pobres e do meio ambiente. (ecodebate)

O aviso do papa sobre o clima

Encíclica publicada pelo Vaticano tem advertências importantes mesmo para os otimistas.
Eu sou um otimista, por temperamento e pela observação. E continuo mantendo uma perspectiva esperançosa em parte porque sei que pessoas menos otimistas veem continuamente problemas e desafios a seu redor e soam o alarme – ao qual devemos responder. O papa Francisco acaba de fazer uma advertência em sua encíclica sobre o meio ambiente. O documento é eloquente e inteligente, principalmente como trata o aspecto científico. “Nas últimas décadas, a maior parte das advertências globais se deveu à grande concentração de gases geradores do efeito estufa decorrentes em grande parte da atividade humana”, diz. “Concentrados na atmosfera, esses gases não permitem que o calor dos raios solares refletidos pela terra se disperse no espaço.” Em duas sentenças, ele descreve o mecanismo do aquecimento global de maneira tão lúcida quanto tudo o que tenho lido a respeito.
A encíclica tem um tom sombrio. Mas, na realidade, estão ocorrendo consideráveis mudanças que poderão colocar o planeta num caminho mais sustentável. Nos damos conta disso na leitura de outro importante documento divulgado, com muito menos estardalhaço do que a carta do papa: o relatório especial sobre energia e mudanças climáticas da Agência Internacional de Energia (AIE).
O documento destaca que, em 2014, a economia global cresceu 3%, mas, pela primeira vez em 40 anos, as emissões de dióxido de carbono relacionadas à energia permaneceram inalteradas. No mesmo ano, as energias renováveis representaram cerca de metade de toda a nova geração de enrgia, enquanto a economia global o uso intensivo de energia caiu em média duas vezes mais, ano a ano, em relação a década passada.
Neste momento está havendo uma revolução na área de tecnologia da energia. Em muitos países, o gás natural substituiu o carvão. O custo das células solares despencou. Automóveis, edifícios e máquinas estão se tornando mais econômicos e eficientes.
Mas não é apenas a inovação que estimula o progresso. Também precisamos de uma revolução na política pública. Fred Krupp, diretor do Fundo de Defesa Ambiental, destaca que a maior parte destes avanços no campo da tecnologia e da eficiência não teria acontecido sem a implementação de normas e leis.
Além disso, em primeiro lugar, devemos parar de provocar danos ao clima. “Ainda temos um longo caminho pela frente em matéria de eficiência energética”, observa Krupp. E ele afirma que a energia solar poderia tornar-se muito mais difundida se os governos não se considerassem tão devedores às empresas de fornecimento de energia e ao seu exército de lobistas.
O presidente Obama recomendou que, atá 2025, as emissões do gás metano e do petróleo sejam reduzidas com base nos níveis de 2012. Por sua vez, Krupp destaca que se a mesma medida fosse adotada em todo o globo, ao longo dos próximos 20 anos ela teria o mesmo impacto obtido pelo fechamento de mil usinas elétricas movidas a carvão.
As inovações em tecnologia e na política estão ocorrendo, embora não na escala necessária. É por isso que as advertências do papa são tão úteis e importantes – até mesmo para um otimista como eu. (OESP)

O grito da Terra

Em encíclica tomada de poesia, advertências e esperança, Francisco escreve como o pastor zeloso pela casa comum e pelos seres, especialmente os pobres, que nela habitam.
É a primeira vez que um papa aborda o tema da ecologia no sentido de uma ecologia integral (portanto, que vai além da ambiental) de forma tão completa. Na encíclica Laudato si’, lançada nessa semana, o papa Francisco traz uma grande surpresa: ele elabora o tema dentro do novo paradigma ecológico, coisa que nenhum documento oficial da ONU até hoje fez. Fundamental é seu discurso com os dados mais seguros das ciências da vida e da Terra. Ele lê os dados afetivamente, com inteligência sensível ou cordial, pois discerne que por trás deles se escondem dramas humanos e muito sofrimento também por parte da mãe Terra.
A situação atual é grave, mas o texto do papa Francisco sempre encontra razões para a esperança e para a confiança de que o ser humano pode encontrar soluções viáveis. Honram os papas que o antecederam, João Paulo II e Bento XVI, citando-os com frequência. E algo absolutamente novo: seu texto se inscreve dentro da colegialidade, pois valoriza as contribuições de dezenas de conferências episcopais do mundo inteiro - dos Estados Unidos, da Alemanha, do Brasil, da Patagônia-Comahue, do Paraguai. Acolhe as contribuições de outros pensadores, como os católicos Pierre Teilhard de Chardin, Romano Guardini, Dante Alighieri, de seu mestre argentino Juan Carlos Scannone, do protestante Paul Ricoeur e do muçulmano Ali Al-Khawwas. Por fim, os destinatários são todos os seres humanos, pois todos são habitantes da mesma “casa comum” (expressão muito usada pelo papa) e padecem das mesmas ameaças. Francisco não escreve na qualidade de mestre e doutor da fé, mas como um pastor zeloso que cuida dessa casa comum e de todos os seres (não só dos humanos) que habitam nela.
Cidadania ecológica: texto propõe estilo de vida assentado no cuidado, na compaixão e na sobriedade.
Um elemento merece ser ressaltado, pois revela a “forma mentis” (a maneira de organizar o pensamento) do papa. É tributário da experiência pastoral e teológica das igrejas latino-americanas, que à luz dos documentos do episcopado latino-americano (Celam) de Medellín (1968), de Puebla (1979) e de Aparecida (2007) fizeram uma opção pelos pobres, contra a pobreza e em favor da libertação. O texto e o tom da encíclica são típicos do papa Francisco e da cultura ecológica que ele acumulou. Mas me dou conta de que também muitas expressões e modos de falar remetem ao que vem sendo pensado e escrito principalmente na América Latina. Os temas da “casa comum”, da “mãe Terra”, do “grito da Terra” e do “grito dos pobres”, do “cuidado”, da “interdependência entre todos os seres”, do “valor intrínseco de cada ser”, dos “pobres e vulneráveis”, da “mudança de paradigma”, do “ser humano como Terra” que sente, pensa, ama e venera, da “ecologia integral”, entre outros, são recorrentes entre nós.
A estrutura da encíclica obedece ao ritual metodológico usado por nossas igrejas e pela reflexão teológica ligada à prática de libertação, agora assumida e consagrada pelo papa: ver, julgar, agir e celebrar. Primeiramente, revela sua fonte de inspiração maior: São Francisco de Assis, chamado por ele de “exemplo por excelência de cuidado e de uma ecologia integral e que mostrou uma atenção especial aos pobres e abandonados”.
Ver
E então começa com o ver, “o que está acontecendo à nossa casa”. Afirma o papa: “Basta olhar a realidade com sinceridade para ver que há uma deterioração de nossa casa comum”. Nessa parte, ele incorpora os dados mais consistentes sobre as mudanças climáticas, a questão da água, a erosão da biodiversidade, a deterioração da qualidade da vida humana e a degradação da vida social; denuncia a alta taxa de iniquidade planetária, que afeta todos os âmbitos da vida e cujas principais vítimas são os pobres. Francisco traz uma frase que nos remete à reflexão feita na América Latina: “Hoje não podemos desconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social que deve integrar a justiça nas discussões sobre o ambiente, para escutar tanto o grito da Terra quanto o grito dos pobres”. Logo a seguir, acrescenta: “Gemidos da irmã Terra se unem aos gemidos dos abandonados deste mundo”. Isso é absolutamente coerente, pois logo no início ele diz que “nós somos Terra”, na linha do grande cantor e poeta indígena argentino Atahualpa Yupanqui: “O ser humano é Terra que caminha, que sente, que pensa e que ama”.
Depois, condena a proposta de internacionalização da Amazônia, que “apenas serviria aos interesses das multinacionais”. Há uma afirmação de grande vigor ético: “É gravíssima iniquidade obter importantes benefícios fazendo pagar o resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental”. Com tristeza reconhece: “Nunca ofendemos nossa casa comum como nos últimos dois séculos”. Em face dessa ofensiva humana contra a mãe Terra, que muitos cientistas denunciaram como a inauguração de uma nova era geológica - o antropoceno -, lamenta a debilidade dos poderes deste mundo, que, iludidos, “pensam que tudo pode continuar como está” como álibi para “manter seus hábitos autodestrutivos” com “um comportamento que parece suicida”.
Prudente, reconhece a diversidade das opiniões e que “não há uma única via de solução”. Mesmo assim “é certo que o sistema mundial é insustentável sob vários pontos de vista, porque deixamos de pensar os fins do agir humano” e nos perdemos na construção de meios destinados à acumulação ilimitada à custa da injustiça ecológica (degradação dos ecossistemas) e da injustiça social (empobrecimento das populações). A humanidade simplesmente “frustrou a esperança divina”. O desafio urgente, então, consiste em “proteger nossa casa comum”. E, para isso, precisamos, aí citando João Paulo II, “de uma conversão ecológica global”, “uma cultura do cuidado que impregne toda a sociedade”.
Julgar
Realizada a dimensão do ver, se impõe agora a dimensão do julgar. Esse julgar é realizado por duas vertentes, uma científica e outra teológica. Vejamos a científica. A encíclica dedica todo o terceiro capítulo à análise “da raiz humana da crise ecológica”. Aqui o papa se propõe analisar a tecnociência sem preconceitos, acolhendo o que ela trouxe de “coisas preciosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano”. O problema é que ela submeteu a economia, a política e a natureza em vista da acumulação de bens materiais. Ela parte de um pressuposto equivocado, que é a “disponibilidade infinita dos bens do planeta”, quando sabemos que já encostamos nos limites físicos da Terra e grande parte dos bens e serviços não são renováveis. A tecnociência se tornou tecnocracia, uma verdadeira ditadura com sua lógica férrea de domínio sobre tudo e sobre todos.
A grande ilusão, hoje dominante, reside na crença de que com a tecnociência se pode resolver todos os problemas ecológicos. Essa é uma diligência enganosa porque “implica isolar as coisas que estão sempre conectadas”. Na verdade, “tudo se relaciona” - uma afirmação que perpassa todo o texto da encíclica como um ritornelo, pois é um conceito-chave do novo paradigma contemporâneo. O grande limite da tecnocracia está no fato de “fragmentar os saberes e perder o sentido de totalidade”. O pior é “não reconhecer o valor intrínseco de cada ser e até negar um peculiar valor do ser humano”.
O desvio maior produzido pela tecnocracia é o antropocentrismo moderno. Seu pressuposto ilusório é que as coisas apenas possuem valor na medida em que se ordenam ao uso humano, esquecendo que sua existência vale por si mesma. Se é verdade que tudo está conectado, então, “nós seres humanos somos unidos como irmãos e irmãs e nos unimos com terno afeto ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe Terra”. Como podemos pretender dominá-los e vê-los na óptica estreita da dominação por parte do ser humano?
Todas essas “virtudes ecológicas” são perdidas pelo desejo de poder como instrumento de dominação dos outros e da natureza. Vivemos uma angustiante “perda do sentido da vida e da vontade de viver juntos”. O papa Francisco cita algumas vezes o teólogo ítalo-alemão Romano Guardini (1885-1968), um dos mais lidos nos meados do século passado e que escreveu um livro crítico contra as pretensões da modernidade (Das Ende der Neuzeit, 1959).
A outra vertente do julgar é de cunho teológico. A encíclica reserva bom espaço ao Evangelho da Criação, justificando a contribuição das religiões e do cristianismo, pois, sendo a crise global, cada instância deve, com o seu capital religioso, contribuir para o cuidado da Terra. Não insiste nas doutrinas, mas na sabedoria presente nos vários caminhos espirituais. 
O texto se abre para uma visão evolucionista do universo, sem usar a palavra, mas fazendo um circunlóquio, referindo-se ao universo “composto por sistemas abertos que entram em comunhão uns com os outros”. Utiliza os principais textos que ligam Cristo encarnado e ressuscitado com o mundo e com todo o universo, tornando sagrada a matéria e toda a Terra. É nesse contexto que cita Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955; jesuíta e teólogo francês, proibido de lecionar e publicar seus textos e cuja obra só foi reconhecida pela Igreja em 1981) como precursor dessa visão cósmica que integra ciência e teologia.
A encíclica conclui essa parte acertadamente: “A análise mostrou a necessidade de uma mudança de rumo. Devemos sair da espiral de autodestruição em que estamos afundando”. Não se trata de uma reforma, mas, citando a Carta da Terra (declaração de princípios éticos para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica; iniciativa da ONU ratificada em 2000), de buscar “um novo começo”. A interdependência de todos com todos nos leva a pensar “num só mundo com um projeto comum”.
Agir
O terceiro passo metodológico é o agir. Nessa parte, a encíclica se atém aos grandes temas da política internacional, nacional e local. Sublinha a interdependência do social e do educacional com o ecológico e constata lamentavelmente os constrangimentos que o predomínio da tecnocracia traz, dificultando mudanças capazes de frear a voracidade da acumulação e do consumo e de inaugurar o novo. Retoma o tema da economia e da política, que devem servir ao bem comum e criar as condições de uma plenitude humana possível. Volta a insistir no diálogo entre a ciência e a religião, como vem sendo sugerido pelo grande biólogo americano Edward O. Wilson (A Criação: Como Salvar a Vida na Terra, 2008). Todas as religiões “devem buscar o cuidado da natureza e a defesa dos pobres”.
Ainda no aspecto do agir, a encíclica desafia a educação a criar a “cidadania ecológica” e um novo estilo de vida assentado sobre o cuidado, a compaixão, a sobriedade compartida, a aliança entre humanidade e ambiente, pois ambos estão umbilicalmente ligados, e a corresponsabilidade por tudo o que existe e vive e pelo nosso destino comum.
Celebrar
Por fim, o momento do celebrar. A celebração se realiza num contexto de “conversão ecológica” que implica uma “espiritualidade ecológica”. Esta se deriva não tanto das doutrinas teológicas, mas das motivações que a fé suscita para cuidar da casa comum e “alimentar uma paixão pelo cuidado do mundo”. Tal vivência é, antes, uma mística que mobiliza as pessoas a viverem o equilíbrio ecológico, “aquele interior consigo mesmo, aquele solidário com os outros, aquele natural com todos os seres vivos e aquele espiritual com Deus”. Aí aparece como verdadeiro que “o menos é mais” e que podemos ser felizes com pouco. No sentido de celebração, “o mundo é mais que uma coisa a se resolver, é um mistério grandioso para ser contemplado na alegria e no louvor”.
O espírito terno e fraterno de São Francisco de Assis perpassa todo o texto da encíclica. A situação atual não significa uma tragédia anunciada, mas um desafio para cuidarmos da casa comum e uns dos outros. Há no texto leveza, poesia e alegria no Espírito e inabalável esperança de que, se grande é a ameaça, maior é a oportunidade de solução de nossos problemas ecológicos.
Francisco termina poeticamente com as palavras “Para além do sol”, dizendo: “Caminhemos cantando. Que nossas lutas e nossas preocupações por esse planeta não nos tirem a alegria da esperança”.
Apraz-me terminar com as palavras finais da Carta da Terra que o próprio papa cita: “Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida”. (OESP)

Papa: ouçam “o grito da terra e o grito dos pobres”

Em encíclica, papa Francisco pede que mundo ouça “o grito da terra e o grito dos pobres”
Freira lê a nova encíclica do papa Francisco
O papa Francisco cobrou em 18/06/15 uma ação rápida para salvar o planeta da ruína ambiental, fazendo um apelo aos líderes mundiais para ouvirem "o grito da terra e o grito dos pobres" e colocando a Igreja Católica no meio das controvérsias políticas sobre as mudanças climáticas.
No primeiro documento papal dedicado ao meio ambiente, o papa pede por uma "ação decisiva, aqui e agora" para deter a degradação ambiental e o aquecimento global, diretamente apoiando cientistas que dizem ser provocado principalmente pela ação humana.
Na encíclica "Laudato Si (Seja Louvado), Nos Cuidados de Nosso Lar Comum", Francisco pede por uma mudança do estilo de vida nos países ricos de uma cultura de consumo "descartável" e o fim de "atitudes obstrucionistas" que às vezes colocam o lucro acima do bem comum.
"A humanidade está convocada a tomar consciência da necessidade de realizar mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo", escreveu o papa, que acusa a "política e as empresas de não estarem à altura dos desafios mundiais", depois de terem feito um "uso irresponsável dos bens que Deus colocou na Terra".
O papa pediu ainda aos países ricos que aceitem um "certo decrescimento" para conter o consumismo e a pobreza.
"Chegou o momento de aceitar certo decrescimento em algumas partes do mundo aportando recursos para que seja possível crescer de maneira saudável em outras partes", escreve o pontífice, que pede "limites" por que é "insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem mais e mais, enquanto outros não podem viver de acordo com sua dignidade humana".
Para Francisco, o atual sistema econômico mundial usa a "dívida externa como instrumento de controle". Já os países ricos por não reconhecerem a "dívida ecológica" que têm com os países em desenvolvimento.
"A dívida externa dos países pobres se transformou em um instrumento de controle, mas não acontece o mesmo com a dívida ecológica (...) com os povos em desenvolvimento, onde se encontram as mais importantes reservas da biosfera e que seguem alimentando o desenvolvimento dos países mais ricos ao custo de seu presente e de seu futuro", afirma o documento. (uol)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Laudato Si’: ‘guia’ para a leitura da Encíclica

Lançada oficialmente, a Carta Encíclica Laudato Si’ do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum.
Vídeo de 6min18s, de divulgação da encíclica: https://www.youtube.com/watch?t=13&v=1tYdOIqvpqg
Vídeo, em tom humorístico, sob o título Papa Francisco na Encíclica: a batalha heroica contra a mudança climática: https://www.youtube.com/watch?v=sr6l_xEhUfs&feature=youtu.be
A seguir publicamos um guia de leitura do texto, divulgado por Radio Vaticano, 18/06/2015.
Este texto oferece um instrumento de suporte para uma primeira leitura da Encíclica, ajudando a compreender o seu desenrolar na totalidade e a identificar as linhas principais. As primeiras duas páginas apresentam a Laudato si’ na sua globalidade; depois, cada página corresponde a um capítulo, indica seu objetivo e reproduz alguns trechos significativos. Os números entre parêntesis remetem aos parágrafos da Encíclica. As últimas duas páginas oferecem o índice completo.
Um olhar por inteiro
«Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?»  (160).  Este interrogativo é o âmago da Laudato  si’,  a esperada  Encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum.  Que prossegue: «Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária», e isso conduz a interrogar-se sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social: « Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?»: « Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo,–  diz o Pontífice  –  não creio que as nossas   preocupações ecológicas possam surtir efeitos importantes».
O nome da Encíclica foi inspirado na invocação de São Francisco  «Louvado sejas, meu Senhor»,  que no Cântico das criaturas recorda que a terra, a nossa casa comum, « se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços» (1). Nós mesmos «somos terra (Gen 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar e a sua água vivifica-nos e restaura-nos» (2).
Agora, esta terra maltratada e saqueada se lamenta e os seus gemidos se unem aos de todos os abandonados do mundo. O Papa Francisco convida a ouvi-los, exortando todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – a uma «conversão ecológica», segundo a expressão de São João Paulo II, isto é, a «mudar de rumo», assumindo a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o «cuidado da casa comum». Ao mesmo tempo, o Papa Francisco reconhece que se nota « uma crescente sensibilidade relativamente ao meio ambiente e ao cuidado da natureza, e cresce uma sincera e sentida preocupação pelo que está a acontecer ao nosso planeta. » (19),  legitimando  um olhar de esperança que  permeia toda a Encíclica e envia a todos uma mensagem clara e repleta de esperança: « A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. » (13); «o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva » (58); «nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se » (205).
O Papa  Francisco se dirige certamente aos fiéis católicos, retomando as palavras de São João Paulo II:  « os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé » (64), mas se propõe « especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum »  (3):  o  diálogo  percorre  todo o texto,  e  no  cap. 5  se torna o instrumento para enfrentar e resolver os problemas. Desde o início, o Papa  Francisco  recorda que também «outras Igrejas e Comunidades cristãs – bem como noutras religiões – se tem desenvolvido uma profunda preocupação e uma reflexão valiosa» sobre o tema da ecologia (7). Ou melhor, assume explicitamente sua contribuição a partir do que foi dito pelo «amado Patriarca Ecumênico Bartolomeu» (7), amplamente citado nos nn. 89. Em vários trechos, o Pontífice agradece aos protagonistas deste esforço  –  seja indivíduos, seja associações ou instituições , reconhecendo que «a reflexão de inúmeros cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre estas questões»  (7)  e  convida todos a reconhecer «a riqueza que as religiões possam oferecer para uma ecologia integral e o pleno desenvolvimento do género humano» (62).
O itinerário  da Encíclica é traçado no n. 15  e  se desenvolve em seis capítulos. Passa-se de uma análise da situação a partir das melhores aquisições científicas hoje disponíveis (cap. 1), ao confronto com a Bíblia e a tradição judaico-cristã (cap. 2), identificando a raiz dos problemas (cap. 3) na tecnocracia e num excessivo fechamento autorreferencial do ser humano. A proposta da Encíclica (cap. 4) é a de uma «ecologia integral,  que  inclua  claramente  as dimensões humanas e sociais»  (137), indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental. Nesta perspectiva, o Papa Francisco propõe (cap. 5) empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes, e recorda (cap. 6) que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma consciência formada e responsável, sugerindo ideias para crescer nesta direção em nível educativo, espiritual, eclesial, político e teológico. O texto se conclui com duas orações, uma oferecida à partilha com todos os que acreditam num «Deus Criador Omnipotente» (246), e outra proposta aos que professam a fé em Jesus Cristo, ritmada pelo refrão «Laudato si’», com o qual a Encíclica se abre e se conclui.
O texto é atravessado por alguns eixos temáticos, analisados por uma variedade de perspectivas diferentes, que lhe conferem uma forte  unidade:  «a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida » (16).
Primeiro Capítulo – O que está a acontecer à nossa casa
O capítulo apresenta as mais recentes aquisições científicas em matéria ambiental como modo de ouvir o grito da criação, « transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar » (19). Enfrentam-se assim «vários aspectos da atual crise ecológica» (15).
As mudanças climáticas:  « As mudanças climáticas são  um  problema  global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade» (25). Se « o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos » (23), o impacto mais pesado da sua alteração recai sobre os mais pobres, mas muitos «daqueles que detêm mais recursos e poder económico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas » (26): «a falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil » (25).
A questão da água: O Pontífice afirma claramente que « o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos ».  Privar os pobres do acesso à água significa « negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável » (30).
A preservação da  biodiversidade:  « Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais que já não poderemos conhecer mais, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre»  (33).  Não são somente eventuais “recursos”  exploráveis, mas têm um valor em si mesmos. Nesta perspectiva, « são louváveis e, às vezes, admiráveis os esforços de cientistas e técnicos que procuram dar solução aos problemas criados pelo ser humano »,  mas a intervenção humana, quando se coloca a serviço da finança e do consumismo,  « faz com que esta terra onde
vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta » (34).
A dívida ecológica: no âmbito de uma ética das relações internacionais, a Encíclica indica que existe «uma verdadeira “dívida ecológica”»  (51),  sobretudo do Norte em relação ao Sul do mundo. Diante das mudanças climáticas, existem «responsabilidades diversificadas» (52), e as dos países desenvolvidos são maiores.
Consciente das profundas divergências quanto a essas problemáticas, o Papa Francisco se  mostra  profundamente  impressionado com a  «fraqueza das reações»  diante dos dramas de tantas pessoas e populações. Embora não faltem exemplos positivos (58),  sinaliza  «um certo  torpor  e  uma alegre irresponsabilidade » (59). Faltam uma cultura adequada (53) e a disponibilidade em mudar estilos de vida, produção e consumo (59), enquanto é urgente «criar um sistema normativo […] que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas » (53).
Segundo capítulo – O Evangelho da criação
Para enfrentar as problemáticas ilustradas no capítulo precedente, o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia, oferece uma visão global oriunda da tradição judaico-cristã e articula a «tremenda responsabilidade»  (90)  do ser humano  diante da criação, o elo íntimo entre todas as criaturas e o fato de que «o meio ambiente é um bem coletivo, património de toda a humanidade e responsabilidade de todos» (95).
Na Bíblia, «o Deus que liberta e salva é o mesmo que criou o universo. […] n’Ele se conjugam o carinho e a força »  (73).  A narração da criação é central para refletir sobre a relação entre o ser humano e as outras criaturas e sobre como o pecado rompe o equilíbrio de toda a criação no seu conjunto: «Essas narrações sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas:  as relações com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, essas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Esta ruptura é o pecado» (66).
Por isso, mesmo que nós « cristãos, algumas vezes interpretámos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do facto de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas» (67). Ao ser humano cabe a responsabilidade de «“cultivar e guardar”  o jardim do mundo (cfr  Gen  2,15)»  (67),  sabendo que «o fim último das restantes criaturas não somos nós. Mas todas avançam, juntamente conosco e através de nós, para a meta comum, que é Deus » (83).
Que o ser humano não seja o dono do universo, «não significa igualar todos os seres vivos e tirar ao ser humano aquele seu valor peculiar » que o caracteriza; « também não requer uma divinização da terra, que nos privaria da nossa vocação de colaborar com ela e proteger a sua fragilidade »  (90).  Nesta perspectiva, « todo o encarniçamento contra qualquer criatura «é contrário à dignidade humana» »  (92),  mas « não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos »  (91).  Necessita-se da consciência de uma comunhão universal: « criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, […]que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde » (89).
O coração da revelação cristã conclui o Capítulo:  «Jesus  terreno»  com a  «sua  relação  tão concreta  e  amorosa com o mundo»  «ressuscitado e glorioso», está «presente em toda a criação com o seu domínio universal » (100).
Terceiro capítulo – A raiz humana da crise ecológica
Este capítulo apresenta uma análise da situação atual, «de modo a individuar não apenas os seus sintomas, mas também as causas mais profundas» (15), em um diálogo com a filosofia e as ciências humanas.
Um primeiro fulcro do capítulo são as reflexões sobre a tecnologia: é reconhecida, com gratidão, a sua contribuição para o melhoramento das condições de vida (102-103); todavia ela oferece «àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder económico para o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do género humano e do mundo inteiro» (104). São precisamente as lógicas de domínio tecnocrático que levam a destruir a natureza e explorar as pessoas e as populações mais vulneráveis. «O paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política» (109), impedindo reconhecer que «o mercado, por si mesmo[…] não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social» (109).
Na raiz se diagnostica na época moderna um excesso de antropocentrismo (116): o ser humano não reconhece mais sua correta posição em relação ao mundo e assume uma posição autorreferencial, centrada exclusivamente em si mesmo e no próprio poder. Deriva então uma lógica do «descartável» que justifica todo tipo de descarte, ambiental ou humano que seja, que trata o outro e a natureza como um simples objeto e conduz a uma miríade de formas de dominação. É a lógica que leva a explorar as crianças, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a superestimar a capacidade do mercado de se autorregular, a praticar o tráfico de seres humanos, o comércio de peles de animais em risco de extinção e de “diamantes ensanguentados”. É a mesma lógica de muitas máfias, dos traficantes de órgãos, do tráfico de drogas e do descarte de crianças porque não correspondem ao desejo de seus pais. (123)
Nesta luz, a encíclica aborda duas questões cruciais para o mundo de hoje. Antes de tudo, o trabalho: «Em qualquer abordagem de ecologia integral que não exclua o ser humano, é indispensável incluir o valor do trabalho» (124), bem como «renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade» (128).
A segunda diz respeito aos limites do progresso científico, com clara referência aos OGM (132-136), que são «uma questão de carácter complexo» (135). Embora «nalgumas regiões, a sua utilização ter produzido um crescimento económico que contribuiu para resolver determinados problemas, há dificuldades importantes que não devem ser minimizadas» (134), a partir da «concentração de terras produtivas nas mãos de poucos» (134). O Papa Francisco pensa em particular nos pequenos produtores e trabalhadores rurais, na biodiversidade, na rede de ecossistemas. É, portanto, preciso assegurar «um debate científico e social que seja responsável e amplo, capaz de considerar toda a informação disponível e chamar as coisas pelo seu nome» a partir de «linhas de pesquisa autónomas e interdisciplinares que possam trazer nova luz» (135).
Quarto capítulo – Uma ecologia integral
O coração da proposta da Encíclica é a ecologia integral como novo paradigma de justiça; uma ecologia «que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda» (15). De fato, «isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida» (139). Isto vale, por mais que vivemos em diferentes campos: na economia e na política, nas diversas culturas, em particular modo nas mais ameaçadas, e até mesmo em cada momento da nossa vida cotidiana.
A perspectiva integral põe em jogo também uma ecologia das instituições: « Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana: “toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais” » (142). Com muitos exemplos concretos, o Papa Francisco reafirma o seu pensamento: há uma ligação entre questões ambientais e questões sociais e humanas que nunca pode ser rompida. Assim, « a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma » (141), enquanto «Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental» (139).
Esta ecologia integral «é inseparável da noção de bem comum» (156), a ser entendida, no entanto, de modo concreto: no contexto de hoje, no qual «há tantas desigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais» comprometer-se pelo bem comum significa fazer escolhas solidárias com base em «uma opção preferencial pelos mais pobres» (158). Esta é também a melhor maneira para deixar um mundo sustentável às gerações futuras, não com proclamas, mas através de um compromisso de cuidado dos pobres de hoje, como já havia sublinhado Bento XVI: «para além da leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração» (162).
A ecologia integral envolve também a vida diária, para a qual a Encíclica reserva uma atenção específica em particular em ambiente urbano. O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação e «admirável é a criatividade e generosidade de pessoas e grupos que são capazes de dar a volta às limitações do ambiente, […] aprendendo a orientar a sua existência no meio da desordem e precariedade» (148). No entanto, um desenvolvimento autêntico pressupõe um melhoramento integral na qualidade da vida humana: espaços públicos, moradias, transportes, etc. (150-154).
Também «o nosso corpo nos coloca em uma relação direta com o meio ambiente e com os outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação» (155).
Quinto capítulo – Algumas linhas de orientação e ação
Este capítulo aborda a pergunta sobre o que podemos e devemos fazer. As análises não podem ser suficientes: são necessárias propostas «de diálogo e de ação que envolvam seja cada um de nós seja a política internacional» (15), e « que nos ajudem a sair da espiral de autodestruição onde estamos a afundar» (163). Para o Papa Francisco é imprescindível que a construção de caminhos concretos não seja enfrentada de modo ideológico, superficial ou reducionista. Por isso, é indispensável o diálogo, termo presente no título de cada seção deste capítulo: «Há discussões sobre questões relativas ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. […] a Igreja não pretende definir as questões científicas, nem substituir-se à política, mas [eu] convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum» (188).
Com esta base o Papa Francisco não tem medo de fazer um julgamento severo sobre as dinâmicas internacionais recentes: «as cimeiras mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes» (166). E se pergunta: «Para que se quer preservar hoje um poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo?» (57). Servem, ​​em vez disso, como os Pontífices repetiram várias vezes, a partir da Pacem in Terris, formas e instrumentos eficazes de governança global (175): «precisamos de um acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns globais» (174), já que «”a proteção ambiental não pode ser assegurada apenas com base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente”» (190), que retoma as palavras do Compêndio da Doutrina Social da Igreja).
Sempre neste capítulo, o Papa Francisco insiste sobre o desenvolvimento de processos de decisão honestos e transparentes, para poder «discernir» quais políticas e iniciativas empresariais poderão levar «a um desenvolvimento verdadeiramente integral» (185). Em particular, o estudo do impacto ambiental de um novo projeto «requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo» (182).
Particularmente significativo é o apelo dirigido àqueles que detêm cargos políticos, para que se distanciem da lógica «eficientista e imediatista» (181) hoje dominante: «se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade» (181).
Sexto capítulo – Educação e espiritualidade ecológicas
O último capítulo vai ao cerne da conversão ecológica à qual a Encíclica convida. As raízes da crise cultural agem em profundidade e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. A educação e a formação continuam sendo desafios centrais: «toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo» (15); estão envolvidos todos os ambientes educacionais, por primeiro « a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese» (213).
O início é apostar «em uma mudança nos estilos de vida» (203-208), que também abre à possibilidade de “exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social» (206). Isso é o que acontece quando as escolhas dos consumidores conseguem «a mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção» (206).
Não se pode subestimar a importância de percursos de educação ambiental capazes de incidir sobre gestos e hábitos cotidianos, da redução do consumo de água, à diferenciação do lixo até «apagar as luzes desnecessárias» (211): «Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» (230). Tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que vem da fé: «O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. Além disso a conversão ecológica, fazendo crescer as peculiares capacidades que Deus deu a cada crente, leva-o a desenvolver a sua criatividade e entusiasmo» (220).
Retorna à linha proposta na Evangelii Gaudium: « A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora» (223), bem como «A felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem, permanecendo assim disponíveis para as muitas possibilidades que a vida oferece» (223); desta forma torna-se possível « voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos» (229).
Os santos acompanham-nos neste caminho. São Francisco, muitas vezes mencionado, é «o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria» (10), modelo de como «são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior (10). Mas a encíclica recorda também São Bento, Santa Teresa de Lisieux e o Beato Charles de Foucauld.
Após a Laudato si, o exame de consciência, o instrumento que a Igreja sempre recomendou para orientar a própria vida à luz da relação com o Senhor, deverá incluir uma nova dimensão, considerando não apenas como se vive a comunhão com Deus, com os outros, consigo mesmo, mas também com todas as criaturas e a natureza. (ecodebate)

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